LÉLIA GONZALEZ
- filosofia ludica
- 4 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de jun. de 2020

"Estamos cansados de saber que nem na escola, nem nos livros onde mandam a gente estudar, não se fala da efetiva contribuição das classes populares, da mulher, do negro do índio na nossa formação histórica e cultural. Na verdade, o que se faz é folclorizar todos eles. Lélia Gonzalez"
Nascida em 1935 em Belo Horizonte, Lélia é considerada a mulher que revolucionou o movimento negro no Brasil. A antropóloga e filósofa teve grande participação política no movimento negro e das mulheres durante sua vida e produziu diversos trabalhos intelectuais sobre a posição da mulher, principalmente negra e indígena, na sociedade brasileira. Lélia criou o termo Amefricanidade, trazendo enfoque para a formação histórica e cultural da América com forte influência africana e indígena. Morreu em 1994.
Lélia assim como Davis pensava na interseccionalidade das lutas dos movimentos sociais. Lélia é uma referência para o movimento feminista negro no Brasil. Pensa acerca do conceito de Amefricanidade no Brasil, como reconhecimento de nossas origens africanas, e também uma nova proposta feminista negra para reconstrução de uma nova política e transformação social, como uma proposta decolonial. Lélia define Amefricanidade [...] Reconhecê-la é, em última instância, reconhecer um gigantesco trabalho de dinâmica cultural que não nos leva para o lado do Atlântico, mas que nos traz de lá e nos transforma no que somos hoje: amefricanos. (Lélia Gonzalez, 1988, 79)”. Com a construção deste termo ela pensava a nuances de toda a opressão sofrida pela mulheres nos tempos de colonialismo, imperialismo,racismo como estrutura social de supremacia eurocristã (branca e patriarcal), assim como Davis romper com essas características do tempo da colonização, ou seja, decoloniar e reconstruir uma nova maneira de ver classe, raça, gênero,como elaborando novos critérios epistemológicos e categorias de análise, que promovam contra-narrativas coloniais, nascidas das trajetórias dos sujeitos situados nas periferias, nos lugares marginalizados, subvertendo o polo de enunciação e validação do discurso do lado colonizador para o do colonizado.
Lélia Gonzalez opera com raça e racismo como estruturantes de uma classificação e hierarquização global, e não como epifenômeno, contudo sem menosprezar a existência ou reduzir o impacto de outros eixos de hierarquização, pois considera a opressão interligada (Collins 1986). A amefricanidade é constituída pelos acontecimentos da travessia do Atlântico, matizada pelos diferentes contextos e cosmovisões das Américas e Caribe, e atua para a construção de “toda uma identidade étnica”, sublinha Lélia Gonzalez (1988), em referência à valorização das experiências e da história das (os) amefricanas (os) na diáspora negra. Em uma de suas falas, para fechar nossa crítica Lélia citou: “ser negra e mulher no Brasil, repetimos, é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo racismo e pelo sexismo a colocam no mais alto nível de opressão”.
Referências:
1- GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In tempo brasileiro, Rio de Janeiro nº 92/93 jan-jun. 1988b, p.69-82
2- DOSSIER: EL PENSAMIENTO DE LÉLIA GONZALEZ, UN LEGADO Y UN HORIZONTE. Amefricanidade: Proposta feminista negra de organização política e transformação social
por Cláudia Pons Cardoso | professora adjunta, Universidade do Estado da Bahia.
3- GONZALEZ, Lélia, Lugar de Negro. – Rio de Janeiro: Marco Zero,1982
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